O Case Ibitipoca

O primeiro case de sustentabilidade de gostaria que expor em nosso site é o da localidade conhecida como Nossa Senhora da Conceição do Ibitipoca. Localizada no sul do estado de Minas Gerais, mais precisamente no Município de Lima Duarte, pertencente a cidade de Juiz de Fora. Fez parte da rota dos bandeirantes que, no século XVII, seguiram pela região cruzando vales e montanhas em busca de ouro. Por não encontrarem o metal nesta localidade seguiram até a região onde se encontram hoje as cidades de Diamantina e Ouro Preto.

Encravada nas montanhas mineiras o pequeno Arraial conta com uma população de pouco mais de 1000 pessoas, escondendo outro tesouro que não era o objetivo dos bandeirantes paulistas. A região é formada por uma extensa reserva de quartzo.

 Mineral usado na fabricação de telas de cristal líquido, LCD, e abriga uma biodiversidade incomum. Formada, principalmente, de vegetação rupestre de grande altitude, Ibitipoca abriga animais como o Lobo Guará, a Doninha, Araçaris, Tucanos, pacas, Gaviões, além de répteis entre outros seres magníficos.

Ali nascem dois rios, o vermelho e o rio do salto. Suas águas de beleza particular, como verão nas fotos, são um dos grandes atrativos locais.

Outra coisa que chama atenção no lugar é, como vocês já perceberam, o nome. Ibitipoca quer dizer IBITI (serra) + POCA (estouro). Nome que faz jus ao comportamento do local. Em dias de chuva, a quantidade de raios que incidem no lugar são bem maior que a média, pois como já dissemos, o quartzo aflora no terreno e por ser grande condutor de eletricidade, acaba atraindo esses raios.

Na segunda metade do século XX o Arraial começou a atrair pessoas que vinham de municípios vizinhos para aproveitar as belezas do lugar e o turismo de lazer passou a impulsionar a economia local.

Em 4 de Julho de 1973 foi instituído, através de Lei Estadual número 6.126, pelo Governo de Minas Gerais o Parque  Estadual  do  Ibitipoca a três quilômetros do Arraial de  Conceição do Ibitipoca.

As trilhas do parque levam a lugares paradisíacos como as grutas do coelho, do fugitivo, 

e a dos três arcos. Seus rios curvos formam praias fluviais maravilhosas que oferecem uma boa oportunidade para o banho. Uma das trilhas leva a um local chamado de “janela do céu” 

 

onde acompanhando o caminho e olhando através do curso do rio, em determinado momento, você se depara com um descortinar maravilhoso da vegetação revelando um visual ímpar que te mostra o fim do rio,

 

 o começo de uma cachoeira de mais de 30 metros e acima o céu mineiro. Passeio imperdível para qualquer visitante.

Centenas de pessoas começaram a frequentar o parque. Vinham principalmente de outras cidades de Minas, porém, já atraiam visitantes de estados vizinhos.

Moradores locais investiram em infraestrutura turística construindo pousados, restaurantes, lojas de souvenier e passaram a tirar, desta atividade, o seu sustento já que distrito não produz mais nada por conta de sua geografia acidentada e pequena população. Ibitipoca crescia e “prosperava”, mas é aqui que começa nosso drama.

Turismo é uma atividade econômica que vive basicamente do intangível, daquilo que não se pode medir, mas sentir. Oque você compra no turismo só pode ser consumido no local. É a possibilidade de, em seus momentos de lazer,  você se deslocar de onde mora e buscar entretenimento em outros lugares agradáveis, recuperando suas energias para um novo momento de trabalho.

Por conta do acesso desordenado de turistas o parque começou a sentir efeitos negativos. Sua base de quartzo agora era quebrada e transformada em quartzito (pedaços menores do quartzo). Estes pequenos pedaços, em época de chuva, rolavam pelas colinas e encostas até chegarem ao leito dos rios. Tal era a intensidade deste problema que os rios começaram a assorear 

com o quartzito. As pessoas que, de maneira descontrolada, acampavam dentro do parque, por falta de uma estratégia de informação, deixavam seus alimentos do lado de fora das barracas. 

A noite os lobos apareciam e roubavam a comida dos acampantes. A consequência disto é que não se via mais, nas fezes dos lobos, pequenos esqueletos de aves e répteis (parte de sua dieta diária), mas sim embalagens de biscoito e chocolate. O resultado desta mudança de dieta? O mesmo do ser humano. Lobos doentes apresentando problema de glicose e colesterol, morrendo e diminuindo a população de um dos espécimes mais belos na lista dos animais em perigo de extinção.

Perguntem-me sobre os moradores? Eles não tinham conhecimento do perigo 

que o turismo desordenado poderia causar em um período médio de tempo. Apenas vislumbravam o lucro obtido pela passagem destas pessoas no Arraial.

O prejuízo calculado era tão grande que entre os anos de 1984 e 1987, ele foi, inteligentemente, fechado para visitação pública para que se implantarem equipamentos de infraestrutura. A população da pequena cidade ficou assustada e preocupadíssima com seu futuro, pois era dali que vinha seu sustento. Chegou-se a cogitar o fim do distrito de Ibitipoca. Os moradores se perguntavam sobre qual seria o destino das pousadas e outros equipamentos já que o principal atrativo local não estava recebendo visitantes.

Após esta data e após um extenso estudo sobre a capacidade de carga que o local oferecia, o parque foi reaberto, agora com um Centro de Visitação Turística

,  Portaria, Centro de Informações 

e Educação Ambiental, Casas de Pesquisadores, Casas de Funcionários (administradores), 

Casa de Visitantes (ilustres), Centro de Manutenção (almoxarifado), Pronto Socorro e ordenação quanto ao número de pessoas que o visitariam diariamente. Mesmo assim a população se queixava já que era um número menor de pessoas que anteriormente. Porém, a decisão do governo mineiro foi sábia. Através destas atitudes, aparentemente rígidas, eles mantiveram a vida do parque, dando a este a chance de se recuperar do impacto causado pelos visitantes.

Outra intervenção aconteceu em Novembro de 2000. A administração do Parque passo

u a restringir o acesso a até 800 visitantes por dia, incluindo a estimativa de 120 pessoas acampadas.

Você quer saber como está o pequeno distrito de Ibitipoca? Eu te respondo. A cidadezinha “só faz crescer”. As pousadas dão show em conforto

 e oferecem um serviço gastronômico diversificado que não deixa nada a desejar para ninguém. Quem já foi não esquece o “pão de canela”, quitute típico do lugar.

Turismo Sustentável é justamente isso. A preocupação em preservar o destino turístico, envolvendo a população local na atividade e mantendo o atrativo “vivo” e em condições de ser usado pelas gerações futuras.